O ecossistema tecnológico chinês destaca-se pela inovação e pela integração, sobretudo em Inteligência Artificial (IA). Com uma vasta base de dados de alta qualidade, um ecossistema robusto – que abriga gigantes como Alibaba, Huawei e Meituan – e políticas públicas e investimentos significativos, o país se consolida como potência global em IA em um ambiente em que o digital e o físico coexistem de forma intensa. Para se ter uma ideia, já foram lançados na China mais de 1.500 modelos de IA, o que representa mais de 40% do total mundial.
Para acompanhar isso de perto, em julho, o diretor de Tecnologia, Rodrigo Peçanha, a head do Zup Labs, Ana Camargo e o pesquisador sênior do Zup Labs, Gustavo Pinto, estiveram em três das maiores cidades do país – Pequim, Hangzhou e Xangai –, visitaram grandes empresas como as mencionadas acima, e participaram do World Artificial Intelligence Conference (WAIC) 2025.
Na edição deste ano do evento, um dos principais destaques surgiu na abertura da conferência, quando o premiê chinês, Li Qiang, anunciou a criação de uma organização internacional para coordenar políticas de governança de inteligência artificial para coordenar políticas de governança de IA em busca de um consenso global. Também foi lançado o Global AI Governance Rules Map, plataforma que reúne legislações e diretrizes de diversos países e funciona como um “radar” regulatório internacional quase em tempo real, permitindo acompanhar as atualizações globais em IA e antecipar tendências.
A imersão reforçou que o avanço chinês em IA integra um plano estratégico estruturado, alinhado a iniciativas que miram a liderança não apenas em IA, mas também em semicondutores, biotecnologia e computação quântica.
Com base nessa imersão, reunimos quatro insights da realidade tech da China para a sua empresa.
4 insights sobre o ecossistema tecnológico da China
Os principais insights do time do Zup Labs sobre o ecossistema tecnológico da China são:
- Economia do Silício e Intelligent Domestic Product (IDP)
- Dados de qualidade são um grande diferencial competitivo
- Perspectiva multidimensional
- Empresas e universidades juntas para impulsionar a inovação
A seguir, vamos ver cada insight em detalhes.
1 – Economia do Silício e o Intelligent Domestic Product (IDP)
Tradicionalmente, o valor de uma nação é medido pelo PIB, o Produto Interno Bruto. No entanto, na era da inteligência artificial, surge a necessidade de um novo indicador: o IDP, ou Intelligent Domestic Product, ou em português, Produto Interno Inteligente.
Este conceito representa a soma do valor gerado pela “produção de IA”, como modelos e agentes, dentro de um território ou empresa.
Durante a WAIC 2025, discutiu-se a inteligência como um recurso estratégico nacional. No ecossistema tecnológico da China, os modelos de IA são comparados a fábricas modernas, os dados são a nova matéria-prima, e os algoritmos, a força de trabalho essencial.
Neste contexto, entra em cena a Economia do Silício (ou Silicon Economics) uma disciplina emergente onde o valor é medido por unidades de inteligência artificial, em vez de por bens tangíveis da produção industrial.
O valor agora reside em tokens processados, decisões automatizadas e execuções de modelos — os novos ativos produtivos. Se antes contávamos peças e toneladas, em breve passaremos a contar em linhas de código e execuções de IA.
Essa mudança transforma a gestão da tecnologia, que passa a focar não apenas em custos ou margens tradicionais, mas no impacto das operações automatizadas por IA. As métricas também influenciam a cultura organizacional. Para evoluir como organizações, é fundamental que adaptemos a forma como medimos nossa produção e operação.
2 – Dados de qualidade são um grande diferencial competitivo
Enquanto no Ocidente, a coleta de dados é predominantemente do comportamento digital das pessoas, a China demonstra que a integração de dados físicos pode elevar a inovação a novos patamares. E com dados coletados em tempo real vindos de experiências integradas entre o físico e o digital, a abordagem data-driven é levada ao extremo.
O ecossistema tecnológico da China é impulsionado por plataformas de pagamento integradas, mini-programas em Super Apps como o WeChat, sensores em ambientes físicos e inteligência artificial que personaliza conteúdo e atendimento.
Essa riqueza de informações comportamentais permite uma personalização de serviços sem precedentes.
No entanto, para transformar dados em uma verdadeira vantagem competitiva, a qualidade e o uso contextualizado são fundamentais. A governança de TI entra em cena como a chave para alinhar a estratégia, gerir riscos e mensurar o desempenho, assegurando que os dados sejam mais do que simples matéria-prima.
3 – Perspectiva multidimensional
O mercado na China é marcado por ser um ambiente altamente competitivo, afinal se destacar em um contexto de uma população que passa de um bilhão de pessoas é um grande desafio. Por isso, no ecossistema tecnológico da China, velocidade é tudo. Isso cria líderes resilientes e ágeis — especialistas em dominar mercados instáveis antes que a concorrência reaja.
Com isso, destacamos 2 características:
3.1 – Business Driven
O comportamento da pessoa usuária é acompanhado com foco total em monetização. Por isso, os negócios na China são ágeis em criar novos produtos, entrar em outras verticais e pivotar rapidamente e quantas vezes forem necessárias.
3.2 – Domínio de toda a cadeia
Com a China aprendemos que o diferencial competitivo pode estar em uma visão sistêmica, com integração profunda e velocidade de execução. Por isso, operar em mais de uma etapa (se não em todas) da cadeia de valor pode ser uma forma de não dar margem para concorrentes.
Enquanto no Ocidente predomina a especialização – cada empresa focada em uma etapa (por exemplo, chip, modelo, infraestrutura, aplicação, integração) – na China, as big techs investem para controlar tudo: chips próprios, nuvem, modelo fundacional, aplicação verticalizada e agentes customizados.
A abordagem chinesa facilita a integração, reduz dependências externas e acelera a entrega de soluções adaptadas ao mercado local e às prioridades do governo, além de refletir uma estratégia clara de soberania tecnológica.
Um exemplo para esse comportamento de dominar toda a cadeia é a empresa de carros elétricos NIO. Muito mais do que uma montadora de carros, ela domina toda a cadeia de valor do carro inteligente, do chip ao sistema operacional, da engenharia ao uso massivo de inteligência artificial.
No Ocidente, o processo é mais fragmentado. Por exemplo, a Nvidia faz chip, OpenAI/Google/Microsoft criam modelos, AWS/Azure fornecem infraestrutura, integradores e consultorias fecham as pontas e startups constroem aplicações finais. O resultado? A inovação depende de parcerias, integração e negociações, o que pode aumentar custos e atrasar entregas. Por outro lado, essa fragmentação também estimula diversidade e competição, já que empresas especializadas em nichos conseguem avançar mais rápido em determinados pontos da cadeia.
Dominando o pipeline completo, as empresas chinesas ganham agilidade e controle. Já o Ocidente ganha flexibilidade e pluralidade de soluções, mas perde velocidade e autonomia em várias frentes, ficando mais vulnerável a quebras ou mudanças em elos críticos da cadeia.
4 – Empresas e universidades juntas para impulsionar a inovação
Na China, os principais laboratórios de inovação possuem parcerias contínuas e estratégicas com universidades, passando por investimentos conjuntos e compartilhamento de infraestrutura.
Assim, as universidades deixam de ser apenas centros de formação e se tornam extensões da pesquisa aplicada na indústria, contribuindo diretamente para o desenvolvimento de tecnologias de ponta, como em modelos de linguagem, chips de IA e veículos autônomos.
O ecossistema tecnológico da China é um exemplo de como a sinergia entre academia e indústria pode acelerar a pesquisa aplicada e formar talentos. Nele, equipes mistas, compostas por pesquisadores acadêmicos e engenheiros de empresas, trabalham lado a lado para explorar novas fronteiras tecnológicas.
Essa abordagem não só impulsiona a inovação, mas também redefine o papel das universidades, que passam a atuar como verdadeiros motores de desenvolvimento tecnológico.
Temos muito o que aprender com o ecossistema tecnológico da China
Esta imersão trouxe lições valiosas sobre integração e inovação. O país nos ensina que a inovação surge da capacidade de se adaptar e de considerar múltiplas perspectivas.
Agora queremos ouvir você! Como sua empresa pode se beneficiar das práticas inovadoras do ecossistema tecnológico da China? Deixe um comentário e compartilhe suas ideias!
Referências
- WAIC 2025: How China’s Flagship AI Conference Is Shaping the Future of AI – Hussein M. Dajani, Linkedin Pulse
- 6 aprendizados da economia digital chinesa que podem acelerar a transformação das empresas brasileiras – Gustavo Pinto, em IT Fórum
- Inovação na China: cultura, estratégia e IA. O que vimos em campo e aprendizados para o Brasil – Gustavo Pinto, em Startupi
- China apresenta robôs lutadores em conferência para anunciar nova organização global de IA – O Estadão de S. Paulo
- Explore the six major trends of Agents through the hottest World AI Conference (WAIC) in history – European Central Station
- China propõe “consenso global” sobre regulamentação de IA – DW – 26/07/2025