Este manual tem como objetivo ajudar as pessoas a construir um plano de estudo da Zup otimizado, de acordo com os seus objetivos de carreira. A ideia é trazer pontos e recomendações baseadas na experiência de pessoas criadoras de conteúdo na Zup Edu e literatura acadêmica.
Um ponto que temos que ressaltar é que acreditamos que o contexto é muito importante para a construção dos objetivos do plano. Por exemplo, se queremos explicar algo em uma conversa de bar, vamos ter uma abordagem totalmente diferente da que usamos com uma liderança. Talvez, para explicar para a pessoa que nos lidera, precisamos exercitar mais, para assim ter certeza do que estamos falando.
Ademais, nosso plano de estudos é totalmente inspirado na Taxonomia dos objetivos educacionais, mais conhecida como a Taxonomia de Bloom. A próxima seção é uma breve explicação desse conceito, o suficiente para você conseguir montar seu plano de estudos e entender o restante do conteúdo.
Taxonomia de Bloom
Você já parou para pensar qual nível de esforço precisa para aprender determinado conceito? Imagine-se na escola, na faculdade ou no seu dia a dia, vão existir coisas que você só precisa lembrar que existem, outras que você precisa explicar, outras que você precisa saber aplicar, entre outras possibilidades.
Na Handora, nossa plataforma de treinamento interno, e na Zup Edu utilizamos a taxonomia de Bloom como um norteador do que queremos construir nos treinamentos. Acreditamos que todo mundo que queira aprender algo, deveria entender da Taxonomia para fazer bons planos de estudo e maximizar o seu aprendizado.
Como pode ser observado na Figura 1, existem duas versões mais famosas da taxonomia: a criada inicialmente por Bloom e uma versão revisada. A diferença entre as duas está nos nomes dos níveis e na inversão do topo da pirâmide (avaliar x síntese x criar).
Na base da pirâmide, temos:
- O primeiro nível, que é lembrar ou recordar, neste nível apenas reconhecemos a existência de coisas;
- Logo depois vem compreender ou entender, quando começamos a identificar e explicar conhecimentos;
- No terceiro nível, existe o aplicar, onde as pessoas conseguem pegar um conhecimento e executar uma ação. Por exemplo, você reproduz o conhecimento de MVC em um sistema ou faz as operações matemáticas se alguém te ensinar como faz;
- O próximo nível é analisar, que é quando as pessoas conseguem pensar se o que elas estão fazendo pode ter alternativas melhores dentro do contexto empregado, aqui você começa a questionar;
- O seguinte é o avaliar, que é começar a argumentar suas decisões e o motivo de suas escolhas, aqui você é capaz de criticar e defender ideias de maneira mais simples;
- Por fim, o último nível é a criação acima das regras, capacidade de juntar conhecimentos e gerar novas ações que não existem. São situações que você percebeu ou sabia que a regra não era a melhor ação para aquele contexto, que você sentiu a necessidade de aprimorar um framework, porque ele não tinha pensado em um determinado caso.
A Figura 2 apresenta uma excelente simplificação do que é esperado em cada nível da taxonomia de Bloom.
Por exemplo, se você deseja aplicar algo, você busca saber usar determinada informação em situações novas. Mas, para entender, você busca classificar, explicar e relatar com suas próprias palavras um determinado conceito. Cada nível tem um significado e você deve ter ele claro, para que também possa atingir seus objetivos.
Neste manual, iremos focar na segunda versão, pois é a mais recente e utilizada atualmente. O que precisamos entender da taxonomia de Bloom é que ela é utilizada não só nas universidades e escolas, mas no dia a dia para entender até onde alguém precisa se dedicar em determinado assunto.
Por exemplo, pode ser que para trabalhar em um sistema crítico (contexto) com sistemas distribuídos, precisamos saber explicar os principais conceitos de sistemas operacionais, pois eles são a base dos conceitos que iremos aprender de sistemas distribuídos. Talvez, se não soubéssemos, a qualidade do produto poderia estar prejudicada.
Vale salientar que você pode aplicar os conceitos de sistemas distribuídos sem saber aplicar os conceitos de sistemas operacionais, contudo para que seu aprendizado seja melhor (dado o contexto), seria importante ao menos saber explicar o conceitos de sistemas operacionais que são a base para sistemas distribuídos.
A partir desse entendimento, outro ponto que é importante compreender é que na base da pirâmide estão os verbos que são menos complexos de serem executados, quanto mais sobe, maior será o nível de dificuldade, em geral, de execução. Por exemplo, recordar/lembrar de algo é mais simples do que sintetizar um conjunto de informações.
Queremos deixar claro que existem diversos desdobramentos da taxonomia de Bloom que não foram mencionados aqui, contudo acreditamos que a explicação seja suficiente para que você consiga criar bons objetivos de aprendizado.
Relembramos que a explicação acima é apenas um resumo direcionado ao que queremos fazer. Sempre consulte boas fontes de referências, indicamos o artigo “Taxonomia de Bloom: revisão teórica e apresentação das adequações do instrumento para definição de objetivos instrucionais” sobre o tema.
Plano de estudos
O template a seguir pode ser visto no GitHub utilizando Markdown, mas você pode criar em qualquer lugar, a ideia é utilizar a mesma estrutura proposta aqui, mas fique livre para fazer suas adaptações.
Nesta seção, nós vamos comentar cada seção do template.
1. Plano de estudo sobre “ALGO”
1.1 Guia do plano de estudo
Nesta seção, devem ficar todas as informações que vão guiar você a entender o que será aprendido, o que deve ser buscado para aprender determinado assunto e onde você vai procurar se informar mais sobre o tema.
1.1.1 Objetivo de aprendizagem
Neste momento, devem ser declarados os objetivos segundo a taxonomia de Bloom. Por exemplo, estudantes devem ser capazes de:
- descrever e identificar os principais tipos de variáveis estatísticas, reconhecendo-as quando perguntado;
- explicar o que é computação quântica e suas características;
- utilizar o React, implementando os principais pontos da tecnologia;
- analisar a programação orientada a objetos e programação orientada a aspecto, sabendo diferenciar as duas e estabelecendo relações entre os conceitos.
Todos os exemplos acima estão nos principais níveis que queremos abordar neste template (recordar, entender, aplicar e analisar). Não iremos abordar avaliar e criar, porque são níveis que estão muito acima na cadeia de aprendizado. Contudo, uma vez que se aprende os primeiros níveis, você conseguirá adaptar para os níveis acima.
Acreditamos também que a partir de um maior entendimento dos conceitos que você está investigando, novos objetivos não percebidos anteriormente podem ser necessários e, com isso, o propósito do estudo pode ser alterado, porém não esperamos que o objetivo seja mudado constantemente.
Claro que se você perceber que existe algo novo e legal que vale a pena expandir os objetivos de aprendizado, você deve alterar o seu plano, mas não esperamos que você fique mudando toda vez que for estudar.
Por isso, tente delimitar bem o que você deseja aprender e em qual nível de aprendizado você deseja estar. Isso deve ser ligeiramente mais complicado quando se tem pouco conhecimento sobre o assunto. Nossa sugestão é que você sempre procure alguém que tenha o conhecimento para validar não apenas o objetivo, como também a exploração do tema.
1.1.2 Explorar o tema
Nesta parte do template, você deve colocar o que deseja descobrir, sempre levando em consideração os seus objetivos de aprendizado.
Aqui, teremos sugestões por níveis de taxonomia de perguntas e é importante frisar que são sugestões para guiar o escopo a partir do nível de objetivo, mas você deve estar livre para explorar da sua maneira com o seu aprofundamento.
Outro ponto que deve ser considerado é que a exploração do tema é um elemento vivo, em determinado momento do estudo, você pode colocar mais itens de exploração ou retirar itens que não fariam sentido.
1.1.3 Palavras-chave
As palavras-chave surgem a partir do que você deseja descobrir na exploração e nos objetivos. Pense em palavras-chave como um conjunto de palavras que você ou outra pessoa que pegar seu plano de estudo devam lembrar, explicar ou aplicar se quiserem entender mais dos assuntos.
Nossa sugestão aqui é que você escreva a palavra-chave e deixe claro ao lado o que se deve fazer com ela, como no exemplo a seguir:
Taxonomia de bloom: Lembrar e Aplicar
Importância de se estabelecer bons objetivos de aprendizado: Explicar
…
Perceba que, a partir disso, a pessoa consegue visualizar o seu plano de estudo e direcionar o que ela tem que fazer. Mais que isso, quando você for revisar o assunto, já terá um guia do que deve ser feito.
1.1.4 Onde pesquisar
Dado o nível dos objetivos, onde podemos pesquisar? Google, artigos, livros, aulas e YouTube são exemplos.
A dica que damos aqui é tenha cuidado com o nível de profundidade que você está procurando. Nossa sugestão é que você tenha moderação nas suas escolhas, não deveria ser muito comum você ler um artigo/livro apenas para lembrar de um tema.
Contudo, o fator contexto pode ser importante para esta etapa, por exemplo, se você quer apenas conversar com colegas de time, pode ser que ler a Wikipédia seja o suficiente para isso.
Mas se você quer conversar com um conjunto de pessoas pesquisadoras, professoras da universidade ou conhecidas na bolha dev, pode ser que apenas saber a Wikipédia não seja o suficiente para te trazer confiança e ler um artigo ou livro seja necessário.
O ponto principal é: entenda o motivo que faz você querer aprender determinado assunto, porque ele vai te guiar até quando você se aprofundar sobre algo.
Pela nossa experiência, existem dois problemas muito comuns na área: pessoas que se aprofundam mais que o necessário em um tema ou pessoas que não se aprofundam no nível ideal para a complexidade do tema.
Neste caso, não existe receita de bolo. Você deve criar sensibilidade para entender o que vai resolver seu problema.
1.1.5 Como você pode recuperar?
1.2 Valide seu conhecimento
Como você pode validar se seu conhecimento está correto?
A seguir, a Tabela 1 apresenta um conjunto de possibilidades de atividades de aprendizado que podem ser utilizadas em cada nível da taxonomia, de acordo com um conteúdo da Universidade de Waterloo no Canadá.
Não é obrigatório seguir todas as atividades, mas, tenha cuidado, se você deseja apenas lembrar de coisas e utilizar debates para isso, pode ter algo errado. Entendemos aqui que o processo é individual e também depende do contexto. É como já falamos, pode ser que para você sentir segurança ao lembrar de algo importante em uma reunião com sua liderança, você precise debater sobre o tema, o que é algo sugerido no nível de analisar.
Nível na taxonomia | Atividades de aprendizado | Sugestões com maneiras de avaliação |
Lembrar Reter, relembrar e reconhecer o conhecimento | – Flashcards – Lista de palavras – Jogos/atividades de memória – Ler materiais – Grifar palavras-chave em textos – Assistir apresentações e vídeos | – Questões de preencher o espaço em branco – Questões de múltipla escolha – Questões de verdadeiro ou falso – Explicar para o pato de borracha |
Entender Traduzir e interpretar o conhecimento | – Mapa conceitual – Estudo de casos – Desenvolvimento de diagramas/desenhos sobre o texto – Participar de grupos de discussão – Preparar/ministrar uma aula simples – Mapa mental – Resumir textos – Think-pair-share | – Mapas conceituais – Infográficos – One – Minute Paper – Apresentações – Dar exemplos para pessoas – Explicar para o pato de borracha |
Aplicar Aplicar conhecimento em diferentes situações | – Criar POCs/exemplos – Mapas conceituais – Participar de sala de aula invertida – Fazer exemplos de vídeo aulas – Fazer trabalho em grupo – Gallery walk – Colocar em prática em projetos pessoais o que aprendeu | – Boa parte dos exemplos aqui é apenas avaliar (dar uma nota) o que foi construído no aprendizado (coluna anterior) – Participar de sites como HackerRank |
Analisar Dividir as informações para analisar os relacionamentos | – Estudo de casos – Debates – Criar quadros/gráficos/ etc. para comparar – Criar mapas conceituais – Criar post argumentativo a favor ou contra assuntos – Think-pair-share | – Criticar ou defender hipóteses, processos e informações – Muddiest point – Criar post argumentativo a favor ou contra assuntos – One-minute paper – Revisar post de blogs, apresentações de colegas, opiniões – Participar de discussões em redes sociais (com cuidado!) |
Avaliar Fazer julgamentos com base nas evidências encontradas | – Debates – Criar quadros/gráficos/etc. comparativos – Avaliar trabalhos, sites, software etc. de pessoas | – Criar post argumentativo a favor ou contra assuntos – Fazer apresentações em grandes eventos da área – Analisar e discutir código de projetos open source |
Criar Compilar informações para gerar novas soluções | – Brainstorm – Tarefas de tomada de decisão – Desenvolver e descrever novas soluções ou planos – Apresentações – Pesquisar projetos – Buscar criar “seu próprio” framework – Buscar criar suas heurísticas | – Desenvolver critérios para avaliar o produto ou solução – Delinear soluções alternativas |
1.2.1 Exercícios e atividade de validação de contexto
Aqui você deve criar um conjunto de exercícios e atividades para que as pessoas possam chegar nos objetivos delas, a ideia é que você já deixe pronto para as próximas pessoas que vão pegar seu plano de estudo. Tanto para que elas possam desenvolver novos exercícios, como para que elas possam resolver os que você criou.
1.2.2 Pessoas que são autoridades sobre o tema
Quem são as pessoas que você seguiria nas redes sociais para saber mais sobre o tema?
Nossa sugestão é que você procure pessoas em sua equipe e redes sociais, como Linkedin e Twitter, que tenham alguma habilidade com o conhecimento que deseja aprender. Por exemplo, você pode utilizar algumas das palavras-chave e buscar no LinkedIn sobre eles, é provável que apareçam várias pessoas, é só escolher.
Este passo é importante para que você possa seguir essas pessoas, procurar possíveis materiais que elas possam disponibilizar e inclusive procurar por especialistas para guiar seu plano de estudos e ajudar a validar seu conhecimento.
1.2.3 Busque formas de corrigir o aprendizado
Um dos principais problemas de quem aprende é ter cuidado somente para não aprender errado. É comum pensar assim: “Se eu ainda estou no processo de aprendizagem, será que o que estou aprendendo está, de fato, certo?”
Nós temos algumas sugestões para ajudar a mitigar esse problema:
Busque por alguém que entenda do assunto: uma vez que você identificou pessoas que são autoridades sobre o tema, pode entrar em contato com elas e marcar para se apresentar ou tirar dúvidas sobre o assunto.
Buscar por exemplos práticos do conceito ou assunto: se você quer aprender sobre Kotlin, pode procurar em repositórios exemplos de código e de sistemas e realizar uma análise neles.
Comparar o que você sabe (um resumo) com o que está sendo disponibilizado na internet (blogs, palestras…).
Se autoavaliar: refletir sobre suas habilidades desenvolvidas. Atenção: tenha cuidado, pois você pode estar se cobrando muito ou estar se superestimando.
Não quer perder nenhum dos nossos conteúdos? Assine a nossa newsletter:
Conclusão
Durante este documento foram discutidos conhecimentos da área de educação que podem ajudar no crescimento de sua carreira, como a taxonomia de Bloom e maneiras de aprender em cada nível da categoria.
Com o conteúdo deste manual você deve se sentir capaz de aplicar os planos de estudos nas necessidades do dia a dia. Agora é você colocar em prática o conhecimento para que você tenha um crescimento exponencial!
Informações adicionais
Para mais informações e dicas sobre o assunto, recomendamos os seguintes conteúdos: