Braille: de onde veio e relatos de uso

Neste artigo você vai ver:

Descubra a origem desse sistema vital para a educação de pessoas com deficiência visual e conheça dois Zuppers que compartilharam um pouquinho da sua experiência com Braille e tecnologia.

Quem criou o Braille?

Quando Napoleão Bonaparte pediu ao oficial do seu exército, Charles Barbier de La Sarre, para criar um sistema de mensagens cifradas que pudessem ser decodificadas por sentinelas durante a noite, provavelmente não imaginava que daria origem a um método de leitura para cegos.

Fato é que o sistema de Barbier se provou muito complexo para os soldados, mas encontrou seu lugar junto aos alunos deficientes visuais da frança, sob o nome de grafia sonora. Foi lá que Louis Braille, em 1821, encontrou a matéria prima para o sistema que conhecemos hoje.

Louis, que perdeu a visão aos cinco anos de idade num acidente, explorou a grafia a fundo e, com aperfeiçoamentos, deu vida ao Sistema Braille —já em 1824.

O sistema é composto por uma célula de seis pontos divididos em duas colunas, formando 63 combinações diferentes, entre letras, números e símbolos especiais. E, pasmem: pode ser aplicado em diversas línguas.

Quem trouxe o Braille para o Brasil foi o professor José Álvares de Azevedo, nascido em 1834. Com 10 anos, o menino foi estudar na França, onde aprendeu a técnica. Ele foi o primeiro professor cego brasileiro e o responsável por ensinar e espalhar o Braille, contribuindo para a melhoria no aprendizado das pessoas com deficiência visual. Feito esse pelo o qual recebeu o título de “Patrono da Educação para Cegos no Brasil”.

É para homenagear sua importância que sua data de nascimento, 8 de Abril, foi escolhida como Dia Nacional do Sistema Braille. Vale dizer que foi só em 21 de junho de 2010 que essa Lei Nº 12.266 foi estabelecida, com a finalidade de conscientizar a população sobre a inclusão das pessoas cegas no sistema educacional do Brasil. 

A data também visa a reflexão sobre a utilização de mecanismos que favoreçam o desenvolvimento intelectual, profissional e social das pessoas cegas ou com baixa visão.

Para ilustrar todo este contexto histórico, dois Zuppers com a deficiência visual compartilharam suas experiências de alfabetização em Braille e sobre os conteúdos digitais disponíveis.

Evandro, 36 anos

“Me chamo Evandro, desenvolvo a atividade de Analista de Teste/QA de acessibilidade aqui na empresa. Nasci com a Toxoplasmose e por causa de várias complicações como descolamento de retina e catarata perdi totalmente a visão. Este processo foi dos 13 aos 16 anos, quando tive que aprender tudo novamente – de como andar com a bengala-guia a ler em Braille etc.

Este processo não foi fácil, mas como estava em andamento nos estudos tive que escolher em prosseguir ou parar de vez! Em pouco tempo aprendi o Braille, que é a leitura e a escrita tátil, e foi de suma importância para o meu aprendizado na sala de aula regular. Da 6ª série até o ensino médio fiz uso deste método. Este sistema era moroso para estudar, pois tinha que escrever em Braille depois transcrever em tinta para o professor me avaliar, o que levava tempo e acabava ficando sempre com a média.

Ao sentir as dificuldades óticas para obter informações, encontrei na tecnologia recursos que pudessem me auxiliar a, por exemplo, identificar cédulas, paradas de ônibus e outras mais. Este foi o maior motivador para que eu fizesse o curso de Analista de Sistemas. 

Já na faculdade, não precisei do Braille, pois o computador além de ser mais leve que a máquina Braille, também financeiramente mais acessível. Eliminei a quantidade de volume de livros com exemplares digitalizados, lidos por um leitor de tela – assim conseguia estudar de igual para igual com os outros alunos. 

Hoje não faço tanto uso do Braille, mas foi uma grande ferramenta para chegar onde cheguei. E aqui deixo uma recomendação a todos que estão na área da tecnologia: nunca se esqueçam da acessibilidade, é muito importante para incluir todas as pessoas.”

Taís, 42 anos.

Na imagem podemos ver uma mulher branca, datilografando sentada.
Taís datilografando

“Meu nome é Tais, tenho 42 anos e já nasci cega, diagnóstico de glaucoma congênita. Sou de Londrina, a caçula de 5 irmãos, e apareci como um novo desafio pra família inteira: e agora?

Em meio a tantos tratamentos e buscas, nos mudamos para São Paulo, onde eu poderia estudar e levar uma vida “normal“.

Muitos me perguntam se o Braille é muito difícil… A minha dificuldade foi igual a de todas as crianças na fase de alfabetização, já que meu colégio era exclusivo para deficientes visuais e o único método de ensino era o Braille.

Lá, aprendi a escrever com a reglete [instrumento utilizado para escrita em braille] e na adolescência fiz o curso de datilografia com a máquina braille manual.

Conclui todo o ensino fundamental nesse colégio e fiz o ensino médio num colégio estadual comum, onde tinha uma professora que transcrevia minhas lições. No terceiro ano do ensino médio tive meu primeiro contato com a informática, fiz um curso básico e, passado um mês, fui convidada para dar aula na mesma instituição onde aprendi. 

Foi nessa mesma instituição que fiz um curso de análise e programação, o qual me deu respaldo para iniciar minha carreira profissional.

Desde então meu contato com a tecnologia sempre foi vital, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Sempre me deparo com a extrema necessidade de acessibilidade na tecnologia. No melhor dos mundos, o exemplo de acessibilidade de Luís Braille e de José Álvares de Azevedo deveriam ser praticados em todos os âmbitos… Só assim teríamos 100% de autonomia e independência!”

‍Esse conteúdo foi produzido por Evandro Chequi e Taís Sabacianskis.

Imagem capa do conteúdo com fundo verde, escrito DIA NACIONAL DO BRAILLE.
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