Por causa do dia nacional da inovação, tivemos, ao redor do Brasil, inúmeros eventos sobre o tema e assuntos relacionados. Em São Paulo, um dos mais icônicos, sem dúvida, foi o Fast Company Innovation Festival Brasil 2022.
A partir de um olhar de tendências de futuro sem deixar de lado temas da atualidade, o Innovation Festival 2022 patrocinado pelo Itaú, Globo e Spotify, sediado pelo Cubo, foi uma grande celebração à vida.
O evento propôs olhar para o futuro a partir de temas como:
- o poder do feminino;
- publicidade no streaming;
- empreendedorismo;
- metaverso;
- novos modelos de startups;
- inteligência artificial e empatia;
- tecnologia social;
- a nova cultura do trabalho;
- colaboração e diversidade como potência criativa;
- raízes africanas como origem da nossa cultura;
- entre vários outros.
Mais de 30 especialistas palestraram em dois dias de trocas, imersão e inspiração. Portanto, nada mais justo do que trazer alguns destaques do que rolou neste grande evento. Quem esteve por lá e contou tudo pra gente foram Adriano Pereira, Staff Product Manager, e Daniel Lugondi, Principal Innovation Manager, ambos da Zup. Vamos lá?
Dia 1 por Adriano Pereira
Qual a importância de um festival de inovação?
Na abertura do evento, Erlana Castro, especialista em estratégia criativa e coautora do Radar da Antifragilidade, fez uma admirável apresentação do evento pela Fast Company. Ela reiterou algumas vezes a importância de nos identificarmos como uma comunidade criativa, como indivíduos que colaboram uns com os outros e promovem momentos de troca de ideias.
No que diz respeito à inovação do ponto de vista corporativo, a FastCo trouxe alguns números e, entre eles, um que reforça a importância de uma empresa ambidestra: hoje, 75% das startups morrem em menos de 13 anos, número este que já foi de 65 anos algumas décadas atrás.
Os mecanismos de inovação tem evoluído para suportar esses riscos, uma vez que existem muitos desafios para que gestores, líderes e pessoas do time pensem fora da caixa com alguma frequência.
Castro reafirmou que o festival tem por princípio incentivar e estimular o entendimento da importância da inovação. Além disso, acrescentou que a criação de espaços corporativos onde pessoas colaboradoras possam inovar vai ser essencial num mundo de novos e disruptivos modelos de negócios no mercado, dando abertura para uma sequência de palestras inspiradoras.
Lidar com desafios criativos com uma narrativa inspiradora abriu as portas do evento com chave de ouro.
Lideranças, o Poder do Feminino
Conduzido pelo quarteto Chieko Aoki, fundadora do Blue Tree Hotels; Ana Luiza McLaren, cofundadora do Enjoei; Cris Naumovis, fundadora da Apego Inc; e Adriana Barbosa, CEO da Preta Hub, o evento começou no seu melhor estilo.
Chieko Aoki falou um pouco de como em 10 anos transformou a Blue Tree em uma das maiores cadeias de hotelaria do Brasil, sempre incentivada pela Cris Naumovis, que de maneira muito descontraída, foi o âncora das perguntas.
Aoki mencionou que o que considera de mais relevante na sua experiência é a gratidão e gentileza como core cultural entre as pessoas. E o papel da mulher é fundamental nesse processo.
Ana Luiza McLaren, referência em empreendedorismo aos 40, ressaltou o quanto as mulheres precisam correr atrás para ficarem atualizadas e Aoki reforçou que a motivação e a curiosidade são habilidades femininas natas que levam um empreendimento a ter sucesso. “Você não é só um customer, mas também é uma pessoa”, disse ela, indicando a importância do pensamento centrado em quem é cliente.
A CEO da PretaHub, Adriana Barbosa, que lidera um hub de criatividade e tendências pretas, também se inclinou nessa relação cultural e mencionou o papel da economia, do empreendedorismo das pessoas pretas e da sua respectiva capacidade inovadora.
A partir desse olhar propositivo, o mercado tem cobrado cada vez mais essa mudança estrutural na sociedade tanto no que diz respeito à existência da mulher e das raças quanto da utilização desse potencial criativo e empreendedor.
Streaming: a nova publicidade
Como um dos patrocinadores do evento, Zé Melchert, Diretor de Advertising da Spotify, trouxe três temas à mesa: conteúdo ao vivo, a nova publicidade e as experiências lineares.
Acompanhando o tema, também estavam presentes Cris Camargo, CEO da IAB Brasil, e Renata Fernandes, diretora de produtos publicitários digitais da Globo. Melchert falou sobre despertar na pessoa cliente o amor à marca e a proximidade das pessoas, falando de temas do cotidiano (futebol, Big Brother, etc.).
Já Fernandes conectou o assunto ressaltando que é preciso criar pontos de conexão e entender a jornada das pessoas usuárias, com publicidade contextual não invasiva. Camargo também apontou que a publicidade não invasiva é um tópico relevante nos dias de hoje, fazendo uma reflexão deste com o Projeto Reark (pequenas experiências segmentadas). “A publicidade é a fonte de receita para que a produção de conteúdo exista”, mencionou.
Zé Melchert fechou a palestra refletindo sobre a fadiga dos streamings e trouxe alguns números publicitários impactantes como: a base de mais de 465 milhões de usuários do Spotify, com 60% “free” ou “ad supported“, e 121 milhões de pessoas ouvintes de áudio.
Metaverso e spatial computing: uma nova fronteira cognitiva
Foco em tecnologia e o esperado de um membro do Vale do Silício, Marcelo Lacerda, chairman da Magnopus, trouxe um assunto que lembra “future trends“, mas que nunca esteve tanto no nosso presente: metaverso e spatial computing.
Vale mencionar que computação espacial é um termo definido por Simon Greenwold, em 2003, como uma interação entre seres humanos e máquinas, onde a segunda retém e manipula as referências reais dos objetos e espaço.
De acordo com Lacerda, o metaverso é uma vertical de computação espacial. Como investidor da Singularity University com parcerias de peso como Stanford, Google e Nasa, a Magnopus defende a criação de deeptechs capazes de inventar novas formas de ver o mundo. Essa experiência poderia criar um mundo ainda mais rico em experiências e sensações.
Para mergulhar no tema, Lacerda recomendou o documentário Child of the Earth e o livro Order of Time, de Carlo Rovelli. Neste, Rovelli desconstrói e reconstrói o conceito de tempo de maneira curta e eloquente combinando física e poesia.
Aqui na Zup também já conversamos sobre Metaverso em um episódio do nosso podcast. Ouça o Zupcast com o nosso CEO, Bruno Pierobon.
Meta (game) verso
Do ponto de vista de impacto de negócios, essa foi a palestra mais empolgante do dia. Paulo Aguiar, CCO da 3c Gaming, com um pitch deck muito bem trabalhado, mostrou como misturar empreendimentos e games, considerando um mercado total endereçável de, pasmem, 32,2 bilhões de gamers.
Paulo acredita que gaming é o elo mainstream mais adequado para o metaverso e as razões são óbvias: no que diz respeito a gaming, as pessoas já estão lá. Ele também falou sobre como foi cuidar da carreira do Nobru, streamer influenciador digital e pro-player de Free Fire.
A indústria de entretenimento brasileira é bastante relevante e definitivamente não faltam incentivos para acreditarmos que vale a pena investir nesse mercado.
M&A como ativação da inovação
Para falar das alavancas de inovação, o evento trouxe David Laloum, COO do Distrito.me; Maurício Sirotsky, sócio-fundador da RBS Ventures; Pyr Marcondes, parceiro sênior da Pipeline Consulting; e Ricardo Barbosa, chefe do portfólio de private equity da Pátria Investimentos.
David com um discurso inteligente e impecável, além de números sólidos, menciona que para transformar é preciso investir, na opinião dele, as empresas têm muita dificuldade com isso e acabam investindo com muita imperfeição, motivo pelo qual quebram.
Como case de sucesso da Distrito.me, David conta que há pouco mais de um ano eles migraram de consultoria shared services para plataforma de produtos, cuja proposta de valor é cuidar da jornada de transformação e inovação de outras empresas, criando um ecossistema magnífico de mais de 36 mil startups mapeadas e 1,5 milhão de users por ano.
Já no viés de investidores, tanto Ricardo quanto Maurício reforçaram a importância em investir em startups. Eles trouxeram o número de 150 milhões de dólares só de M&A, em 2021, e o crescente mercado de inovação aberta, caracterizada pelas alavancas de inovação corporativa.
A Pátria Investimentos ainda trouxe o case que compraram a StartSe para fomentar essa cultura e que contrataram centenas de c-levels neste período, dando fôlego para um mercado carente e rico de empreendedorismo brasileiro.
A conclusão do grupo foi: a melhor forma de fazer inovação é através de startups.
A tecnologia social, o olhar para o futuro e o combate global da pobreza
Na minha opinião, esta foi sem dúvida alguma a palestra do dia mais tocante. Não é segredo para ninguém o quanto é relevante o impacto da desigualdade social no nosso país.
A tese de empreendedorismo do Saulo Barreto, cofundador do IPTI, se refere ao que ele indica como maior problema da humanidade: a pobreza. Barreto apresentou uma visão clara com um produto, que já está ganhando tração, onde modelos biológicos são capazes de promover a evolução sistêmica de um mundo mais humano, com menos pobreza e menos fome.
Para isso ele fundou a rede Synapse, sistema de transmissão social sustentável, a partir de um laboratório de inovação social em Santa Luiza do Itahy, Sergipe.
Através da visão holística da sua solução, ele está sendo capaz de criar pessoas transformadoras sociais para gerar autonomia e inspiração, assim como a Zup tem feito utilizando o core business de tecnologia.
Por meio da formação desse capital humano, pessoas empreendedoras que geram outras pessoas empreendedoras, Barreto acredita em uma proposta de valor de contaminação cultural bottom-up, capaz de transformar o mundo de maneira sustentável.
Utopia ou não, o mundo precisa de mais Saulos e empresas como a Zup.
Uma experiência de pertencimento: “Down Quixote”
Este foi o primeiro longa com 100% de atuações de pessoas com síndrome de Down. Apresentado por Célia Kakitani, CEO da Spray Media, e Patrick Hanser, diretor de Criação da Spray Media, a experiência com o filme Down Quixote evidenciou um velho conhecido do universo do empreendedorismo: poucos recursos que precisam gerar muito valor.
E foi esse o grande desafio que resultou em sucesso pra Spray Media! Eles precisavam gravar um longa de 16 dias com qualidade cinematográfica e de um grande grupo de profissionais de atuação com síndrome de Down.
Célia e Patrick foram enfáticos quando disseram que o sucesso dependia da sinergia, união e otimismo do grupo. Uma pessoa apoiando a outra quando já achavam que não daria certo, mas deu!
O grupo patrocinado pelo Sesi-SP foi a prova viva que o esforço coletivo apoiado por lideranças criativas podem transformar a forma como encaramos a inovação.
Dia 2 por Daniel Lugondi
O dia 2 do evento foi marcado por conexões quase viscerais com um início avassalador ao revisitar a história para ressignificar o futuro.
Pessoalmente, foi uma forma bem diferente de começar um dia de evento e uma injeção de ânimo para quem trabalha com transformação perceber que as mudanças são mesmo parte do que se faz no presente.
Por meio de pequenas intervenções, movemos e quebramos as correntes que nos aprisionam ao passado, quer seja em termos de tecnologia, cultura ou preconceitos estabelecidos que nos rodeiam e muitas vezes não nos atemos.
Em meio a seis encontros em formato de palestra e painel – sim, tudo junto – os temas abordados neste segundo dia foram bastante diversificados, porém bastante conectados, pois observou-se ali uma linha condutora que perpassou temas inerentes à inovação.
Dentre os assuntos, estão:
- diversidade;
- empreendedorismo;
- comunicação,
- história e futurismo;
- sem deixar de lado assuntos afirmativos como raça, gênero, fatores sociais e econômicos, colaboração, todos eles tendo como pano de fundo a revolução industrial 4.0.
Revisitando a história para ressignificar o futuro
Conduzido pelo CEO da Fast Company Brasil, Marcelo Lobianco, este painel trouxe uma discussão interessantíssima sobre como construir um futuro sobre novas bases de igualdade ao lado de César Fraga, fotógrafo e produtor cultural do Projeto Sankofa; e Crispim Calonge, professor, tradutor e CEO da Boutique of Languages.
Por meio de suas experiências pessoais, César Fraga, que já esteve na África em inúmeras ocasiões, e Crispim Calonge, nascido na Angola, relataram como o potencial do Brasil é negligenciado ao deixar de lado grande parte da população.
O questionamento surge do fato de termos mais da metade da população, declaradamente preta e/ou parda, sendo deixada de lado.
“A gente precisa ter vergonha do que o Brasil se tornou! Troquem o software de vocês, precisamos nos atualizar ou mesmo deletem o software quando este não aceita o outro na condição dele”, disse Crispim, metaforicamente, ao sinalizar a urgência com a qual precisamos lidar em termos de diversidade em um país plural como o nosso.
Apesar disso, o otimismo prevaleceu ao falar sobre preconceito ao citar o fato de que precisamos nos doar mais, “dar é guardar! Resgatar um pouco do Ubuntu é essencial, considerem resgatar a identidade de vocês, saber de onde veio e todos viemos da África, é um importante passo na construção do futuro”, finalizou Crispim.
O futuro do entretenimento: artistas como marcas
Já no futuro do entretenimento, um ponto de virada ao trazerem para a bancada Eduardo Tracanella, diretor de Marketing do Itaú, e Marcelo D2, que dispensa apresentações, para uma discussão leve e descontraída, porém bastante inteligente sobre posicionamento de marca.
Aqui alguns insights relevantes: a partir de cases e parcerias como Rock in Rio e Itaú, assim como Marcelo D2 e Twitch. Ambos remontam o novo modelo competitivo onde o desafio das marcas, sob uma ótica de entretenimento “é descer do pedestal e se comunicar com as pessoas. Entretenimento é paixão, emoção e, para nos conectar com pessoas, é preciso se conectar com essas narrativas”, apontou Tracanella.
A construção de equipes precisa ser mais diversa também, porque é a partir dessa diversidade que nos conectamos genuinamente com essas narrativas.
Tracanella disse que na equipe de marketing do Itaú, eles contam com TikTokers e essa perspectiva de futuro, inclusive, possui um projeto dedicado a manter conexão corpo a corpo com os novos formatos. Isso se potencializa ainda mais se considerarmos outros meios como VR (Virtual Reality), AR (Augmented Reality) e Metaverso.
Importante frisar que o que não muda é o foco a partir das pessoas e seus novos comportamentos, mudanças culturais e a sua forma de interagir com essas novas possibilidades.
Aqui, um destaque para números da parceria entre Itaú e Rock in Rio em termos de resultados:
Pré-evento
- Patrocínio de 7 dias em um projeto de um ano;
- ingressos em pré-venda – 80K vendas;
- 100 creators;
- #vocenorockinrio 912MM em cartões;
- #opalcoetodoseu 9,6B de views.
Durante
- a marca mais comentada no evento;
- 227K seguidores no TikTok;
- Arena Itaú em Lives;
- 800K pessoas assistindo um único show;
- a marca mais lembrada do evento – Top of Mind;
- 200K brindes distribuídos;
- 38M em earning media.
Já Marcelo D2 enfatizou o lado da pessoa artista sobre a mudança significativa da indústria, que só cantar ou fazer música não é mais suficiente, artistas precisam ser pessoas plurais e, como as marcas, se reinventarem para novos comportamentos.
As interações não são mais por meio de pontos de contato restritos como um disco ou um show, é preciso ir além. Isto evoca, não somente para artistas, a necessidade das empresas estarem conectadas ao seu lugar de fala.
“Não se pode gerar um ‘curto-circuito’ na cabeça do seu público”, reforçou D2. Nas palavras de Tracanella: “clientes não podem pegar uma bike do Itaú e pensarem em sustentabilidade para depois ver um outro serviço qualquer do banco falhar ao longo do dia, saber se posicionar e dar conta desse posicionamento é fundamental.”
Tem mais!
Se você gostou do que viu até aqui, convido a acessar minhas notas, na íntegra, com insights, slides, fotos, etc. sobre três temas igualmente pertinentes.
Confira a lista abaixo:
- Colaboração e Diversidade como Potência Criativa
- A nova cultura do trabalho, entre desafios e soluções
- Emprededorismo na Raça: Influência e expansão nos negócios (imperdível!)
Takeaways
O que em resumo não poderia faltar foi fundamentalmente pano de fundo para todas as apresentações, em maior ou menor ênfase, verificamos vários aspectos o que estamos “martelando” há algum tempo no mercado em termos de inovação.
Traduzindo-se em poucas palavras, diz respeito ao protagonismo, diversidade, colaboração, abertura e incentivo ao empreendedorismo e, principalmente, fortificação dos nossos principais ativos: pessoas!
Em nível país, fica claro que o caminho da opressão gera uma perda altamente significativa, seria como ignorar metade da capacidade empreendedora do país se considerarmos pretos e pardos, para não falar em outras minorias. Como não ver potencial neste público e se pautar unicamente pela Faria Lima? Pessoas que moram na favela movimentam R$180 bilhões em renda própria por ano.
Em maior ou menor escala, rever nosso modelo de país e os conceitos estabelecidos até aqui são preponderantes para construirmos não só novos modelos de negócios potentes, para mais além, uma nação genuinamente pautada pela inovação.
Conclusão
Foram dois dias de trocas de conhecimento no Fast Company Innovation Festival Brasil 2022, de imersão em problemas reais e muita inspiração para reforçar dois grandes territórios que já fazem parte do repertório das empresas: inovação e diversidade.
Poderia até mesmo arriscar a dizer que até para fechar negócios, as organizações estão se readaptando, empresas grandes inovando através de startups, startups inovando através de diversidade cultural, entre outros.
São novos modelos de conhecimento que definem novos modelos de startups e que, por sua vez, redefinem a potência criativa das empresas.
Incrível, não é? Adoramos acompanhar eventos e você pode conferir mais conteúdos como esse aqui no blog e nas nossas redes sociais.
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*Artigo produzido por Daniel Lugondi e Adriano Brito Pereira