Um dos maiores erros que profissionais podem cometer é assumir que suas experiências, opiniões e preferências são as mesmas que o público que precisa atender. Para evitar esse tipo de enviesamento, fazer pesquisas com o seu público é crucial. Uma boa ferramenta para isso é adotar um questionário de pesquisa.
Neste artigo vamos mostrar como a forma de organizar uma pesquisa é importante para a efetividade das descobertas e da solução a ser desenvolvida, além de tirar algumas dúvidas que surgem no caminho. Importante dizer que são dicas e não regras!
São várias as áreas que se beneficiam de um bom questionário de pesquisa, por exemplo, Produtos Digitais, Design, Pesquisa Acadêmica e Marketing, só para citar alguns.
Você vai aprender neste artigo, por exemplo:
- Tipos de pesquisa: qualitativa e quantitativa
- Definir o objetivo de pesquisa e os resultados esperados
- Como elaborar o questionário de pesquisa
Comece pelo tipo de pesquisa: qualitativa ou quantitativa?
O seu objetivo ajudará a definir o formato do questionário de pesquisa, o tamanho da base de pessoas respondentes com a qual você rodará as perguntas e ainda como analisará os dados coletados. Portanto, entender os pontos fortes e fracos de cada tipo de pesquisa é fundamental para trazer um melhor resultado na sua investigação.
Pesquisas quantitativas
Pesquisas quantitativas são realizadas com a intenção de obter dados precisos e fáceis de quantificar. Portanto, as perguntas devem ser objetivas e sem margem para subjetividade.
Contudo, para se criar perguntas objetivas é necessário ter um bom nível de conhecimento e boas hipóteses para serem investigadas. Por exemplo, para você perguntar para alguém o que a motiva, apresentando boas opções, é necessário entender do contexto, e/ou de teorias de motivação, e/ou ao menos ter ouvido falar de possíveis itens que podem motivar alguém.
Por exemplo, o Censo realizado pelo IBGE é uma pesquisa quantitativa. No caso de pesquisas com o tamanho amostral do Censo, a recorrência do levantamento dos mesmos indicadores permite analisar a evolução e involução das condições de vida das pessoas no país dentro de um período específico e segmentar, por exemplo, por regiões e grupos sociais.
É muito mais comum ver pesquisas quantitativas buscando descrever um conjunto de pessoas e suas necessidades, ou confirmar como essas pessoas pensam, gostam e agem do que utilizá-las em situações para entender qual o problema ou desafio que enfrentam no dia a dia.
Isso acontece porque quando você adiciona opções e pede para a pessoa escolher, já tem um vago entendimento do que deve impactar aquilo e pode, inclusive, induzir uma escolha. Exemplo:
O que mais te motiva a ficar na organização?
- Tarefas desafiadoras
- Conhecimento útil utilizado na tarefa
- Impacto social do que eu faço
Em todas essas opções, a pessoa pesquisadora está direcionando o que pode ser respondido. Neste caso, esses itens vieram de uma outra pesquisa (Teoria da motivação do Engenheiro de Software).
Além disso, a validade da sua pesquisa quantitativa depende muito do tamanho da sua amostra e população. Toda pessoa pesquisadora ambiciona que seu levantamento tenha relevância estatística.
Mas o que é relevância estatística?
Relevância estatística significa que a base de pessoas respondentes é representativa em relação ao total do público pesquisado. Logo, os dados disponíveis para análise são confiáveis e pertinentes para quem consultar os resultados apresentados.
Esse conceito também pode ser chamado de validade estatística e significância estatística.
Inclusive, existem alguns sites que servem para calcular o tamanho da amostra necessária para ter alguma relevância estatística, por exemplo:
Pesquisas qualitativas
Em geral, pesquisas qualitativas são realizadas para formular teorias ou hipóteses do que está acontecendo em uma determinada situação. Por exemplo, o porquê das pessoas morarem em uma determinada região. Pode ser por uma infinidade de motivos. A partir dessa inquietação, a pessoa pesquisadora realizaria uma pesquisa qualitativa, e como resultado ela iria filtrar as respostas mais relevantes e elaborar uma teoria ou um conjunto de hipóteses que podem ser testadas posteriormente de maneira quantitativa.
Pesquisas qualitativas também podem explorar para entender mais de uma situação, mas elas não são tão comuns e nem tão fáceis de se fazer.
No exemplo anterior, é possível fazer a mesma pergunta, “O que mais te motiva a ficar na organização?”, mas sem opções de resposta. Assim, as pessoas respondentes ficam livres para falar o que pensam, sem vieses ou direcionamentos.
Com isso, é muito comum este tipo de pesquisa ter uma base amostral reduzida e perguntas que abrem espaço para a subjetividade das pessoas respondentes.
As pesquisas qualitativas exigem um trabalho de análise que implica elaborar uma narrativa que muitas vezes parte de um dado extraído de uma pesquisa quantitativa para apresentar como ele se desdobra na complexidade das relações humanas.
Pesquisa Qualitativa vs Pesquisa Quantitativa
Em resumo: uma pesquisa qualitativa ajuda a aprofundar dados para entender as necessidades das pessoas. Enquanto a pesquisa quantitativa traz dados sobre essa necessidade.
Para efeito de comparação, enquanto que as pesquisas quantitativas são um voo sobre uma região que permite observar como as pessoas se organizam em um espaço, as pesquisas qualitativas são um passeio a pé por um dos bairros onde a pessoa pesquisadora se permite sentar para conversar com quem mora ali por alguns minutos e descobrir porque decidiram fixar residência naquele local.
Um ponto muito importante: não existe tipo de pesquisa melhor. Existe tipo de pesquisa melhor para o seu objetivo e necessidade. Inclusive, as pesquisas qualitativa e quantitativa podem ser usadas de forma complementar.
Primeiro você explora, cria boas hipóteses e teorias, em seguida descreve e confirma o que está acontecendo. Com isso, é muito comum ter ao fim de uma pesquisa qualitativa, uma pesquisa quantitativa e, depois de uma pesquisa quantitativa, uma pesquisa qualitativa. É cíclico.
Agora que você sabe sobre pesquisas qualitativas e quantitativas, vamos avançar!
Definir o objetivo
A definição do objetivo de uma pesquisa indica também quais resultados você pretende obter com a coleta de dados junto à base de pessoas respondentes.
Em empresas, por exemplo, as pesquisas contribuem para a decisão sobre um investimento, a mudança na estratégia de vendas de um produto ou pontos de melhoria da jornada de utilização de um serviço. Portanto, são demandadas pesquisas quantitativas em que, por exemplo, são medidas a satisfação dos clientes, a pertinência do produto ou serviço para as pessoas e quanto a oferta da empresa tem aderência com os anseios dos seus clientes.
No caso do desenvolvimento de um produto ou serviço, as pesquisas quantitativas ajudam a mensurar o tamanho do mercado para estimar o potencial de vendas, riscos e oportunidades diante da concorrência. A etapa de Product Discovery é sempre uma das mais importantes no desenvolvimento de um produto.
As pesquisas qualitativas ajudam a elaborar a oferta e entender como gerar valor para as pessoas usuárias, entendendo dores na jornada de aquisição e uso de um produto ou serviço. Em muitos casos esse levantamento qualitativo ocorre por meio de entrevistas individuais.
Já nas pesquisas acadêmicas, as pesquisas qualitativas têm como principal objetivo embasar uma análise ou sustentar a elaboração de uma hipótese.
Público-alvo
Pode acontecer de você escolher um recorte populacional para pesquisar que não se organiza da forma como imagina e, assim, seu questionário de pesquisa já começa invalidado.
Se você conhece pouco o público, um questionário de pesquisa bem estruturado ajuda a levantar informações sobre o que ainda está oculto ao mesmo tempo que coleta dados mais profundos. Assim como perguntar da forma adequada e alinhada com o contexto e o repertório cultural das pessoas potencializa respostas com informações mais ricas.
Como definir as bases para cada tipo de pesquisa
Como vimos, definir o público-alvo é fundamental para alcançar a relevância estatística da pesquisa.
No caso de uma pesquisa quantitativa, é recomendado que a base de pessoas respondentes seja proporcional à base total do público pesquisado. Assim, os dados coletados terão validade para a elaboração de hipóteses e teorias na análise.
O grande problema é que quanto menor o número da população, maior será a proporção da amostra para se ter uma resposta estatística válida. Por exemplo, para 2 mil zuppers, em um cálculo padrão, a quantidade mínima seria de 160 respostas.
Uma dica baseada mais na experiência do que em regras da estatística para números menores é buscar uma taxa de resposta de cerca de 30% (números pequenos, por exemplo, seria uma empresa de 400 pessoas).
Já para uma entrevista qualitativa, o critério de definição da base de pessoas respondentes é um desdobramento da estratégia acima. O tamanho da amostra é reduzido, porém, entra um outro fator no critério de seleção: representatividade.
Se, por exemplo, o levantamento quantitativo indica que a maioria das pessoas respondentes tem mais de 30 anos, são casadas e têm pelo menos dois filhos, é indicado ter pessoas com esse perfil para aprofundar a análise em conversas em grupo, individuais ou com a coleta de respostas dissertativas.
O que vemos muito em trabalhos científicos é um número entre 12 e 20 respostas para ser considerado aceitável. Dentro de uma empresa, baseado em experiências também, com umas seis pessoas, possivelmente já se tem resultados muito bons.
Aqui, a dica é: quando começar a aparecer poucas respostas novas ou itens que ninguém tinha falado anteriormente, é um indício de que você pode parar.
Como elaborar um questionário de pesquisa
Finalmente vamos começar a elaborar nosso questionário de pesquisa!
Elaborar um questionário de pesquisa é como construir o roteiro de um filme. Além de contar uma história, precisa de fechamentos de ciclos para a manutenção do foco e da motivação da pessoa espectadora, ou no nosso caso, da pessoa respondente.
Comece dividindo as perguntas em blocos de assuntos. Essa organização facilita para a pessoa respondente e para quem se encarrega da análise dos dados coletados. Para quem responde, a organização da pesquisa em blocos reduz o esforço da memória para recuperar informações.
Um questionário de pesquisa que oscila entre campos temáticos é mais cansativo de responder, além de deixar o objetivo da pesquisa confuso. Essa dificuldade para responder pode resultar em desmotivação e até desistência por parte da pessoa respondente.
Já para quem analisa a pesquisa, os blocos possibilitam o cruzamento de dados com agilidade e a elaboração de insights mais ricos, permitindo identificar padrões conforme o perfil da pessoa respondente.
O roteiro habitualmente inicia em uma abordagem ampla, com a coleta de dados pessoais e vai aprofundando conforme a pesquisa se desdobra.
No exemplo da caminhada pelo bairro para entender onde a instalação de coleta de esgoto pode gerar mais valor em um bairro, um roteiro adequado seria:
- perfil demográfico (idade, arranjo familiar, tempo que reside no bairro);
- como utiliza a rede de água (atividades domésticas, se realiza atividades profissionais na residência que demanda uso de água etc.)
- impactos da ausência de uma rede de coleta no dia a dia (transbordo em dias de chuva, mau cheiro, qualidade da água).
Teste seu questionário de pesquisa
Depois de terminar seu questionário de pesquisa, é interessante fazer uma revisão das perguntas e respostas.
Se possível, peça para alguém que é seu público-alvo responder para ver se essa pessoa está interpretando as perguntas da mesma maneira que você. Você deve pedir para ela responder e explicar o que ela entendeu da pergunta e das respostas. Aqui, uma ou duas pessoas podem ser suficientes para essa validação.
É sempre bom verificar ao final da construção do questionário de pesquisa se as perguntas feitas respondem os objetivos iniciais do mesmo. Em caso negativo, talvez seja uma opção mudar o objetivo ou tirar/adicionar perguntas.
Conclusão
Esperamos que este artigo consiga te ajudar a ter investigações assertivas e um questionário de pesquisa que realmente vão extrair o que você precisa do seu público.
Como dissemos no começo, esse artigo é baseado em nossa experiência. Portanto, são dicas em vez de regras a serem seguidas.
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*Artigo produzido por Marcelo Amaral e Dr Danilo Monteiro Ribeiro.