Termos de metodologias ágeis: significado, contexto e curiosidades 

Neste artigo você vai ver:

Segundo pesquisa feita pela Gartner, 87% das pessoas participantes contaram que usam o Agile (Ágil) para o desenvolvimento de pelo menos uma das suas aplicações de software. Com a predominância desse recurso, novos termos de metodologias ágeis se tornam populares e surgiram muitas dúvidas sobre seus significados e aplicações adequadas. 

Neste artigo, apresento três termos populares no contexto ágil que me deixaram confuso e curioso quando eu os ouvi pelas primeiras vezes.

O conhecimento do significado e uso adequado de cada termo é importante para a criação de um vocabulário comum, gerando uma comunicação assertiva entre stakeholders. Afinal, de acordo com a sétima edição do PMBOK, a comunicação é o fator mais importante no engajamento efetivo das pessoas envolvidas no projeto.

O objetivo deste texto é esclarecer para quem tem curiosidade e que, assim como eu quando se deparam com novos termos, procuram entender qual o significado e o contexto mais adequado para utilização desses conceitos.

Não pretendo julgar quem utiliza os termos de metodologias ágeis de forma diferente, muito menos corrigir quem que está lendo este artigo ou fazer com que ela saia por aí corrigindo outras pessoas.

Grooming x Refinement

Grooming é utilizado como sinônimo para refinamento do backlog do produto (em inglês product backlog refinement). O Scrum Guide de 2020 define o product backlog refinement como “o ato de fatiar e incluir definição adicional aos itens do backlog do produto para ter itens menores e mais precisos”. 

É importante ressaltar que no framework Scrum existem apenas quatro cerimônias, além da Sprint em si, sendo elas: 

  • Planejamento da Sprint (Sprint Planning);
  • Daily Scrum;
  • Revisão da Sprint (Sprint Review);
  • Retrospectiva da Sprint (Sprint Retrospective). 

Dessa forma, o refinamento não é uma cerimônia do Scrum, e sim uma atividade contínua feita pelo time antes e/ou durante uma sprint.

Segundo a Agile Alliance, o primeiro registro de uso do termo backlog grooming é de Mike Cohn, responsável por contribuir com o framework Scrum e uma das pessoas fundadoras da Scrum Alliance. Grooming foi utilizado originalmente na ideia de aparar, podar e limpar, como é feito em uma planta, para fazer a analogia com uma abordagem orgânica de manter o backlog.

Independente do refinamento do backlog ter aparecido inicialmente dentro do contexto do framework Scrum, ele pode ser utilizado e é referenciado em outros frameworks ou métodos, como no Kanban

De acordo com David Anderson, criador do método Kanban, é recomendado fazer o refinamento backlog de forma regular para reduzir o tamanho dos itens e melhorar a efetividade e eficiência das reuniões de priorização.

Como o termo grooming em inglês tem um duplo sentido e pode ser utilizado também para designar o crime de aliciamento de menores, é preferível utilizar a palavra refinamento para evitar a ambiguidade, como a própria Scrum Org faz em seu glossário oficial, ao deixar apenas a palavra refinement.

Histórias de Usuário x Estórias de Usuário

Uma dúvida corriqueira na tradução do termo User Stories é se devemos utilizar Estórias de Usuário ou Histórias de Usuário. O termo User Stories aparece inicialmente no contexto ágil dentro da Metodologia XP (EXtreme Programming) em 1996. Já Mike Cohn define User Stories em seu livro User Stories Applied como a “descrição de uma funcionalidade que será valiosa para um usuário ou cliente de um sistema ou software”.

Em contextos diferentes na língua inglesa, existem as palavras story e history. É possível ocorrer uma confusão, entendendo que cada uma das palavras tem uma tradução diferente em português, o que é um erro, uma vez que ambas as palavras são traduzidas como história.

De acordo com o dicionário Dicio, a palavra estória é considerada uma forma arcaica da Língua Portuguesa, que era utilizada em tempos medievais onde não havia uniformização ortográfica e para designar uma narrativa de ficção. Em 1943, a Academia Brasileira de Letras eliminou a distinção gráfica e recomendou o uso da palavra história em qualquer circunstância, sentido ou âmbito. 

Dessa forma, para o contexto das User Stories, o mais adequado também é utilizar Histórias de Usuário na tradução para o português, considerando que a palavra Estória não é mais utilizada em nosso idioma.

Dívida Técnica x Débito Técnico

É muito provável que você já tenha se deparado tanto com o termo dívida técnica quanto com o termo débito técnico, e no final ficou em dúvida de qual seria a utilização mais adequada. O termo original em inglês é technical debt conforme mostrado na Agile Alliance e no glossário da Scrum Org.

Inclusive, neste último, technical debt é descrito como:

um retrabalho, normalmente imprevisível, de manutenção do produto, muitas vezes causado por decisões de design abaixo do ideal, contribuindo para o custo total de desenvolvimento do produto. Esse retrabalho pode ser adicionado de forma não intencional no incremento do produto ou pode ser introduzido propositalmente para obter um valor de forma antecipada.”*

De acordo o Dicionário Cambridge, em inglês debt significa dívida, enquanto debit significa débito. Dessa forma, a tradução de technical debt para o português seria Dívida Técnica. As duas palavras em inglês são parônimas, ou seja, palavras que são pronunciadas ou escritas de maneira semelhante, embora possuam significados diferentes. 

A proximidade da grafia entre elas pode ter causado uma confusão na tradução de technical debt, fazendo com que habitualmente ela seja traduzida como débito técnico.

Segundo Martin Fowler, responsável por contribuir com o Manifesto Ágil, o termo dívida técnica foi cunhada por Ward Cunningham (também responsável por contribuir com o Manifesto Ágil) como uma metáfora de dívida financeira. Para ilustrar melhor a analogia, Martin Fowler utiliza a seguinte explicação:

“A dívida técnica é similar à dívida financeira. Assim como a dívida financeira, a dívida técnica exige o pagamento de juros. Estes vêm na forma de esforço extra, que devem ser pagos em desenvolvimentos futuros por conta da escolha de um design mais rápido e de baixa qualidade. Nós podemos optar por continuar pagando esses juros ou quitar de vez a dívida fazendo uma refatoração, transformando um design de baixa qualidade em um design melhor. Apesar dos custos para quitar a dívida, ganhamos reduzindo os juros no futuro.”*

É importante ressaltar que débito técnico já se popularizou tanto quanto, ou até mais que, o termo dívida técnica. Dessa forma, mesmo não sendo a tradução correta, não costuma impactar na criação do produto da parte das pessoas envolvidas.

Quer saber como a criação do manifesto ágil impactou o desenvolvimento de software? Temos um vídeo do Zup Open Talks sobre esse tema.

Conclusão

Neste artigo, apresentei três termos de metodologias ágeis e suas definições, suas origens, o motivo de confusão com outros termos e a utilização mais indicada. 

Para os termos apresentados, o mais importante é a comunicação entre as pessoas do time e demais stakeholders, ou seja, que todo mundo possa se entender utilizando um vocabulário em comum. Uma vez que a comunicação não é comprometida, a meta do produto é atingida de forma ainda mais fácil.

Agora que você conhece mais termos sobre metodologias ágeis, você pode continuar navegando pelos nossos conteúdos de Agile. É só clicar na categoria e aproveitar!

*Tradução livre.

Colaboraram com a produção do artigo: Adriano Brito Pereira, Ana Carolina Martins de Freitas e Jonas Augusto dos Santos.

A imagem capa do conteúdo sobre "Termos de metodologias ágeis: significado, contexto e curiosidades", onde há um desenho que possui a palavra "AGILE" no centro e ao seu redor alguns conceitos escritos em papel "post it", como scrum e kanban.
Eu
Product Manager
Sou o Vinícius, mas pode me chamar só de Vini mesmo, natural de Uberlândia – MG, graduado em Ciência da Computação e Mestre em Engenharia de Software. Amo ler, criar e conversar a respeito de conteúdos relacionados ao ágil, gestão de produtos, gestão de pessoas e tecnologia no geral. No tempo livre, estou viajando ou programando a minha próxima viagem.

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